A pressão sobre as contas públicas brasileiras voltou ao centro do debate com a perspectiva de redução dos incentivos fiscais em diversas áreas. O movimento do governo para propor esse corte ocorre em um momento de grande tensão no cenário econômico, com metas de equilíbrio cada vez mais distantes e dificuldades políticas para aprovar projetos estruturantes. A proposta busca ampliar a arrecadação sem aumentar impostos, mas enfrenta resistência de setores que dependem diretamente desses benefícios.
Especialistas em finanças públicas alertam que a retirada pura e simples desses incentivos pode ter efeitos colaterais significativos. Sem um plano de transição ou uma compensação adequada, segmentos importantes da economia podem reduzir investimentos e cortar empregos. A medida, ainda não detalhada oficialmente, deverá ser encaminhada ao Congresso em meio a um ambiente de instabilidade política e incertezas sobre o comprometimento com o controle fiscal.
Enquanto isso, entidades técnicas seguem apontando que apenas medidas emergenciais não são suficientes para garantir a sustentabilidade das contas públicas. Relatórios recentes têm reforçado que o país precisa avançar em reformas profundas, especialmente nas áreas administrativa e previdenciária. A correção de distorções históricas e o redesenho de regras fiscais são constantemente citados como condições essenciais para a reversão do quadro preocupante de endividamento.
A dificuldade em gerar superávit primário se soma à limitação para novas fontes de receita. Com a economia ainda apresentando crescimento modesto, qualquer alteração na estrutura tributária precisa ser cuidadosamente calibrada para não agravar o ambiente de negócios. Além disso, a judicialização de cortes ou mudanças abruptas em regimes de isenção pode atrasar a entrada efetiva de novos recursos no caixa da União.
A reação do mercado financeiro a esses sinais é marcada por cautela. Investidores avaliam não apenas o volume de arrecadação que pode ser recuperado, mas também o impacto político da medida. A base de apoio do governo tem se mostrado dividida em temas econômicos e isso pode comprometer a aprovação de propostas consideradas impopulares. A resistência também se estende a estados e municípios, que podem perder recursos indiretos em caso de alteração na cadeia de incentivos.
Os economistas apontam ainda que o momento exige mais do que ajustes pontuais. A ausência de uma visão estratégica de longo prazo pode limitar o alcance de qualquer iniciativa isolada. A combinação entre aumento de despesas obrigatórias, baixo crescimento e renúncias fiscais elevadas compromete o espaço de manobra do Executivo. A busca por equilíbrio deve, portanto, passar por um esforço conjunto e coordenado entre os poderes e entes federativos.
A pressão por responsabilidade fiscal também vem de fora. Agências de classificação de risco, organismos multilaterais e investidores estrangeiros acompanham de perto os sinais emitidos pelo governo. Qualquer hesitação pode implicar elevação dos custos de financiamento da dívida pública e fuga de capitais. A credibilidade do país na condução da política econômica depende da capacidade de entregar resultados consistentes, mesmo diante das limitações conjunturais.
A expectativa agora se volta para o conteúdo final da proposta e a estratégia que será usada para garantir sua tramitação. O sucesso dessa empreitada dependerá não apenas da economia de curto prazo, mas da construção de um ambiente político favorável às mudanças mais profundas. A estabilidade fiscal continua sendo o maior desafio do momento e exigirá decisões firmes, transparentes e com foco no futuro.
Autor : Sheila Lins